Durante a Assembleia Geral dos
Bispos, Dom Severino Clasen destacou que é preciso mudar a mentalidade
sobre os leigos e leigas na Igreja
André Cunha
Enviado especial a Aparecida (SP)
O tema prioritário da 53ª Assembleia
Geral da CNBB, “Os cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade”,
foi um dos assuntos no encontro dos bispos com a imprensa nesta
quinta-feira, 16, em Aparecida (SP).
Dom Severino Clasen, bispo referencial da
CNBB para o laicato, afirmou que ainda existe no meio eclesial certa
resistência quando o assunto é o papel efetivo dos leigos na Igreja,
sobretudo, para assumir funções importantes.
“É preciso mudar um pouco a mentalidade
da hierarquia [da Igreja] e também do laicato. Há uma acomodação dentro
da consciência do clericalismo, aquilo que o próprio Papa Francisco
condena muito. Acho que nesse ponto podemos crescer, tanto os leigos
como a hierarquia”, afirmou.
Para o bispo, a resistência por parte do
clero está em sua formação e atualização. “Nós temos muitos documentos e
temos também um grande aliado hoje que é o Papa Francisco. Espero que
não precisemos deixar passar uma geração, trazer uma nova geração para
então mudar; nós precisamos fazer isso! E para isso, estes documentos
têm que ser um instrumento para essa mudança”.
A CNBB prepara um documento sobre esta
nova ideia para o laicato. Ele ainda está em desenvolvimento mas,
segundo dom Severino, deve ficar pronto para a Assembleia de 2016.
Para o bispo, a mudança de mentalidade
não é fácil. É necessário “habilidade e simpatia” de adesão, para que
haja uma “fonte de atração” e ela aconteça.
Um balanço sobre o trabalho da Comissão para o laicato
Dom Severino Clasen termina nestes dias
sua função como presidente da Comissão Episcopal para o laicato. Na
segunda-feira, 20, acontecerão as eleições para escolher os novos
presidentes das comissões da CNBB.
O bispo acredita que, durante os quatro
anos de mandato, houve avanços no processo de conscientização sobre
participação dos leigos, mas vê a necessidade de crescer “muito” na
organização. Ele destaca que antes, é preciso trabalhar a consciência, a
dignidade dos cristãos leigos e leigas, para mais tarde entrar na
organização. Esta, segundo dom Clasen, não vai funcionar se ainda faltar
elementos de conscientização, participação e envolvimento.
“Os leigos estão querendo algo novo,
então cabe à CNBB ouvir, incentivar e encorajar para que esse novo seja
para o melhor”, completou o bispo de Caçador (PR).
Igreja, sociedade e redução da maioridade penal
Outro assunto abordado durante a coletiva
de imprensa nesta tarde, foi a conjuntura social e eclesial, ou seja, a
presença da Igreja na sociedade.
A grande questão levantada foi como a
Igreja tem respondido às mudanças sociais e culturais que estão
ocorrendo. Sobre este assunto, quem falou foi o arcebispo do Rio de
Janeiro, cardeal Orani João Tempesta.
Segundo ele, mais que fazer planos e
elaborar diretrizes, a Igreja precisa ser presença nas periferias,
existências e físicas, como tem comumente enfatizado o Papa Francisco, e
anunciar Jesus Cristo nestes “lugares” para que as pessoas tenham vida.
“É necessário descobrir a grande
contribuição da Igreja; ser uma presença de testemunho e ajuda para que a
sociedade recupere os caminhos da ética, da transformação e da justiça
social”, salientou.
Neste contexto, está a redução da
maioridade penal que vem sendo discutida nos últimos dias. Para o bispo,
não se deve reduzir a idade de 18 para 16 anos, pois considera que
prender mais pessoas não resolve em nada os problemas do país.
“Sabemos da necessidade de colocar em
prática o que já existe sobre reeducação, orientação, e não simplesmente
prender mais pessoas, o que não resolve nem pra quem já está preso,
devido a situação que se encontram nossas prisões”, afirmou.
Povo indígenas
Os povos indígenas também foi assunto
durante a conversa com a imprensa. O bispo da prelazia de Xingu (PA) e
presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dom Erwin
Krautler, há 50 anos na região, afirmou que a situação dos povos
indígenas nunca foi tão delicada como agora.
“Estamos numa situação muito delicada,
que coloca em cheque inclusive a Constituição Federal. Se não
demarcarmos a áreas indígenas não vamos parar as violências contra os
povos indígenas. A maioria da violências está ligada a terras. O Governo
não demarcou praticamente nenhuma área e isso, nós sabemos, é por causa
do agronegócio”, afirmou.
Fonte Canção Nova
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